Saúde

Sardinha, fonte de ômega-3

Elas costumavam nadar em grandes cardumes pelos mares da Sardenha, ilha localizada no Mediterrâneo — daí seu nome. Aventureiras, navegaram quilômetros até disseminar populações de sua espécie pelos vários oceanos do mundo . Ao longo de sua missão desbravadora, vieram parar nas águas — e no prato — dos brasileiros, formando a família Sardinella brasiliensis, a típica iguaria nacional. Por ser tão comum e ter um baixíssimo custo, nem todo mundo se dá conta de que a sardinha esconde uma riqueza inestimável.

“Ela contém ácido graxo ômega-3 em quantidades que não deixam nada a desejar a parentes estrangeiros, como o salmão, que levam a fama de ser as melhores fontes da substância”, garante o especialista em ciência e tecnologia dos alimentos Luiz Henrique Beirão, da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).

Muita gente pode estranhar, já que o ômega-3, ácido graxo lotado de vantagens para a saúde, é típico de peixes de águas gélidas e profundas. “Essas espécies precisam da gordura para evitar que congelem nessas águas”, justifica o químico e cientista de alimentos Jesuí Visentainer, da Universidade Estadual de Maringá (UEM), no Paraná. Por que, então, a sardinha, que aprecia temperaturas amenas, seria tão rica no ácido graxo? “Por ser migratória e se movimentar muito, ela armazena a gordura como reserva energética”, responde a pesquisadora e doutora em nutrição Cristiane Neiva, do Instituto de Pesca de Santos, no litoral paulista. “Sem contar que também se alimenta de algas ricas em ômega-3”, completa.

A sardinha não só contém ômega- 3 como fornece o ácido graxo em suas melhores variantes: o eicosapentaenóico, conhecido como EPA, e o docosahexaenóico, o DHA. A título de comparação, vegetais como a linhaça fornecem a gordura como ácido alfalinolênico. “Essa substância é convertida em EPA e DHA graças a enzimas no nosso organismo”, explica Jorge Mancini, especialista em tecnologia de alimentos da Universidade de São Paulo (USP). Mas essas enzimas nem sempre dão conta do recado, especialmente no caso de idosos. “E isso compromete o aproveitamento da tal gordura”, conclui Mancini. Já a sardinha se alimenta de algas ricas no ácido alfalinolênico. Assim, a pequena notável se encarrega de transformá- lo na dupla benéfica, que fica pronta para ser absorvida por qualquer um, em qualquer situação.

“No corpo humano, essas gorduras do bem minimizam a ação nociva de compostos inflamatórios”, explica o nutrólogo Celso Cukier, do Instituto de Metabolismo e Nutrição, em São Paulo. Dessa forma, ajudam na prevenção de uma série de males que dão as caras em locais díspares como o coração, o intestino e as articulações. Sem falar que ainda entram na constituição da retina e da massa cinzenta. Recentemente, um trabalho da UFSC analisou as quantidades de ômega-3 em diversos peixes da costa brasileira. E adivinhe... “A sardinha foi a campeã de EPA, ficando à frente de pescados como o bonito e o atum”, confirma Visentainer, um dos responsáveis pela avaliação.

Finalmente, como qualquer peixe que se preze, ela é fonte de proteínas de excelente qualidade, ideal para manter os músculos em dia, e fósforo, um mineral que participa da mineralização dos ossos. Portanto, não faltam motivos para que se inclua essa aventureira dos mares no cardápio. Duas ou três vezes por semana é o suficiente. A versão em lata é uma alternativa válida de vez em quando, até pela praticidade. Só repare em um senão: em conserva, o peixe geralmente vem imerso em óleos ou molho de tomate. “Evite a primeira opção. Ela é fonte de ômega-6, gordura típica da alimentação ocidental e que, em excesso, provoca inflamações”, orienta Cukier. Diante de tantos benefícios, é hora de investir em seus dotes culinários, abusar da criatividade e servir a sardinha à mesa. Vale assada, ensopada ou recheada — Nós, aliás, ensinamos uma receita assim. Clique aqui e confira!

PARA APROVEITÁ-LA DIREITO

O cuidado para comprar o peixe é praticamente o de sempre: “Verifique se os olhos estão brilhantes e as brânquias, avermelhadas. Mas não se preocupe com escamas soltas, porque isso é normal nas sardinhas”, ensina a oceanógrafa Maria Cristina Cergole, do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis, em São Paulo. Fique ainda mais atento ao odor. “A sardinha nunca deve ter cheiro de ranço, um sinal de oxidação”, avisa Cristiane Neiva. Por fim, evite as frituras. Temperaturas muito altas degradam o ômega-3.

O QUE É QUE A SARDINHA TAMBÉM TEM

Calorias 164

Fósforo 578 mg

Zinco 1,8 mg

Ferro 1,3 mg

Cálcio 438 mg

(em 100 gramas, que equivalem a três unidades)

A ESPÉCIE ENCONTRADA NO NOSSO MAR

Da hora da compra no supermercado à chegada ao prato — siga alguns conselhos para nenhum benefício da sardinha se perder no trajeto

NOME CIENTÍFICO: Sardinella brasiliensis

NOME POPULAR: sardinha-verdadeira

POR ONDE NADA: apesar do nome, visita vários litorais, principalmente na Califórnia (EUA), no Japão, no Chile, no Peru, na costa africana. E, claro, no Brasil

COMPRIMENTO: ela mede em média 17 centímetros; algumas atingem 27 centímetros

Fonte: Revista Saúde

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